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Ary Barroso - 1926-04-01

Boysinho:

Estava eu jantando - 5,1/2 mais ou menos da tarde - com o pensamento fixo no correio, quando uma voz de homem gritou na janela: "Dr. Ary!" Levantei-me então e dirigi-me à janela: era o carteiro, muito meu amigo e carnarada, que me apresentou para ser assinado um recibo de carta-expressa. Assinei. Examinei o envelope e logo me veio a tua lembrança com o sobrescrito: "Ao jovem Ary Barroso, etc.". Não pude continuar a refeição, pelo que fui advertido pela vovó: "Come primeiro, menino, depois lê!" Não obedeci e fui lendo logo, matando saudades imensas, consolando-me com a tua cartinha. Convenci-me então, Boy, que posso contar contigo para o futuro, e que a maior parte das minhas suposições a teu respeito ou é injustiça ou será exagero. Não te importes com os meus achaques e minhas "ciumeiras" infundadas: crê sempre no meu profundo amor e na minha sólida amizade. Quero-te de uma maneira invulgar, descomum, diferente. Sinto perfeitamente, claramente, que já não posso perder-te, que já não posso viver sem teu afeto. És uma criança, uma menina-môça, e no entanto já infundes amor, um sentirnento estranho e indecifrável, só compreendido dos espíritos bem formados e das almas virtuosas. Só quem ama sem interesse, só quem ama com pura sinceridade é que é capaz de medir as conseqüências possíveis do amor. Principalmente quando não é correspondido, Boysinho, Deus me livre de pensar que, por um minuto só, um instante desprezaste o meu afeto; Deus me livre de julgar que és possível ainda de o desprezar. Creio na bondade dos sentimentos, na firmeza de teu caráter, como creio que um dia ainda haveremos de ser felizes, se para tanto cooperarem Deus, tu e eu.

Não penses jamais, Yvonne, que estas palavras constituem simples frases apaixonadas de namorados, não! Mil vezes, não! Afiançote que, quando te escrevo, pela ponta de minha pena vaza um pouco de meu coração, um pouco de minh'alma e muito de meu cérebro.

Não tenho paixão, nem quero que a tenhas. Como já te disse, a paixão cega, aniquila e chega a matar, peço-te, sim, com fervor, que cada vez para sempre procures sempre iluminar-te para o bem e para a honestidade, pensando em mim, eu que te quero como razão de ser de meu entusiasmo pela vida. Estas minhas palavras, sinceras e puras, guarda-as bem em memória, porque assim terás na lembrança que em certa época de certo ano eu deverei cumprilas, e as cumprirei nem que para isso dependa de minha parte o maior sacrifício, o que acredito nunca será necessário, pois quando o amor é puro, é sólido, é leal, é correspondido, Deus abençoa, colocando-o a cavaleiro de todas as paixôes mesquinhas e fatais que perseguem a humanidade.

Lembranças a todos os teus (que também já os considero meus). Não te esqueças de quem muito te estima. P.S. - Hoje a vovó faz 64 anos!

ARY - Ubâ - 1-4-1926

(Carta a noiva Yvonne)